Após se aventurar na ficção científica e no terror, Alex Garland retorna aos cinemas com uma distopia regada de ação e tensão, estrelada por Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny.Guerra Civil” é um filme com caráter jornalístico em um futuro distópico (não tão distante), onde a civilização se vê no limite de sua humanidade.

Com direção e roteiro de Garland, a obra acompanha uma equipe pioneira de jornalistas de guerra viajando pelo país para registrar a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada, envolvendo toda a nação. No entanto, o trabalho de registro se transforma em uma guerra de sobrevivência quando eles também se tornam o alvo.

Com 1 hora e 50 minutos de duração, Alex Garland constrói ao lado de seu diretor de fotografia, Rob Hardy, um roteiro que usa dos artifícios visuais e sonoros para complementar sua história. Ao trazer um núcleo principal de jornalistas, a produção tende a escolher momentos que capturam o olhar minucioso e criterioso de uma lente de um fotografo de guerra. Em conjunto com os sons ensurdecedores de tiroteio, o filme acaba sendo mais imersivo do que o esperado. Assim, Garland faz o espectador calçar os sapatos dos jornalistas que enfrentam a guerra civil nos EUA.

Ainda que o filme tenha um viés político, ele não tenta levantar alguma bandeira partidária. O espectador não sabe o motivo específico que impulsionou o início da guerra e tal conhecimento não se julga necessário para a premissa que o longa traz. Assim, acompanhamos diferentes lados da mesma guerra, até ela encontrar uma conclusão sanguinária.

Civil War': e Kirsten Dunst estrelam novo filme de ação da A24  | Pop | gshow
Wagner Moura

Quando observamos o elenco principal, não resta dúvidas de que foi um acerto absoluto. A dinâmica e a química que os 4 compartilham é tão verossímil que não abre espaço para dúvidas a respeito de sua parceria de longa data.

Kirsten Dunst é absolutamente genial como uma jornalista amargurada, que questiona todas suas decisões após longos anos de carreira como correspondente de guerra, enquanto Cailee Spaeny é seu extremo oposto, juvenil, inocente e com brilho no olhar que é ofuscado com os terrores que presencia. Enquanto isso, Wagner Moura consegue viver o charmoso jornalista, viciado em adrenalina e que dá todo suor de si. O ator, por mais que tenha um papel “cômico”, acaba rendendo momentos dramáticos inesquecíveis. Por fim, Stephen Henderson reflete toda sua sabedoria e calmaria em momentos em que essas duas qualidades se fazem extremamente necessárias.

Nick Offerman

Garland assina em seu roteiro diversas sutilezas que acompanham a sua direção fantástica e intensa. Uma delas se dá no início do longa, quando o presidente dos EUA, interpretado por Nick Offerman, ensaia seu discurso mecânico que percebemos não corresponder a realidade através de sua fala desajeitada, gaguejos e nervosismo. Assim, o filme já se inicia com a ideia de que veremos um país regado de instabilidade, perigo e mudanças extremas.

Ao longo da obra é possível ver essa ideia se reafirmar, quando surge personagens que utilizam dessa realidade catastrófica para impor os ideias de um país perfeito, eliminando todos que pensam e agem diferente do “esperado”. E é aqui que surge a performance de Jesse Plemons, que teve um pouco mais de 5 minutos de tela mas o suficiente para ser impactante e inesquecível. A tensão gerada nessa cena é absurda, Plemons domina o ambiente e dita todas as sensações que o espectador irá transitar durante esses poucos (e aterrorizantes) minutos.

Jesse Plemons

Como a proposta principal de “Guerra Civil” é observamos uma guerra através das lentes de um grupo de jornalistas a experiência gerada pela obra é algo quase antropológico. Analisar como a humanidade reage diante da falta de civilização não é algo novo no cinema, contudo, Garland orquestra de um jeito tão realista que causa temor em quem assiste por não ser um cenário tão distante de nossa realidade. A normalização da crueldade e a polarização de ideias são os pilares para a manutenção da tensão que o filme gera.

Um dos pontos extremamente fortes de “Guerra Civil” é a edição de som e a montagem. Como já mencionado neste texto, o longa metragem se aproveita do fato de serem fotojornalistas e cria espaços em formas de fotografias para focar e destacar momentos de tensão, bem como o som de tiros e bombas, que são muito bem posicionados e compõem o roteiro conforme surgem.

Talvez, o que pode frustrar o público seja a conclusão do filme. A sequência de ação não deixa a desejar, consegue repassar a insegurança, o medo, a tensão e a adrenalina do momento, todavia, a conclusão de alguns personagens acaba sendo morna e até um pouco anticlimática. Ainda assim, gera no espectador reflexões que o filme faz ao longo de toda sua trajetória: jornalistas registram para noticiar o que a humanidade é capaz de fazer para não repetirmos.

A verdade é que “Guerra Civil” é um filme imperdível! Sem sombra de dúvidas. O elenco foi minuciosamente escolhido para fazer dar certo a dinâmica entre a equipe, ao ponto de nos fazer criar empatia e afeto por eles. A sensação que fica ao fim, depois de absorver uma história tão imponente é de que, talvez, esse seja um dos melhores trabalhos de Alex Garland.

O filme estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas brasileiros.

Deixe um comentário

Veja posts relacionados:

leia também

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora