Exibido no último Festival de Cannes, onde pode concorrer à Palma de Ouro, “Clube Zero” marca o retorno da cineasta austríaca Jessica Hausner após 4 anos do seu último trabalho. Protagonizado por Mia Wasikowska, o filme usa de uma estética simétrica e um humor ácido para construir uma sátira a respeito de distúrbios alimentares e negligência parental. Contudo, se a premissa guardava o potencial de grandiosidade para Hausner em seu grande retorno, a cineasta encolhe e se restringe a superficialidade estética.

Em “Clube Zero” conhecemos Miss Novak (Mia Wasikowska), uma professora que consegue um emprego em uma escola de elite e forma um forte vínculo com os alunos. Ela introduz uma aula de nutrição baseada num conceito inovador. Esta mudança conduz a uma revolução nos hábitos alimentares da escola. Mas, com o passar do tempo, a influência que Miss Novak exerce sobre certos alunos eventualmente toma um rumo perigoso.

At The Movies: Club Zero serves up food for thought, Nyad's actresses go  the distance | The Straits Times

Com 110 minutos de duração, “Clube Zero” usa do absurdo para chocar e impactar a audiência. Uma professora de nutrição chega a um colégio de elite e consegue convencer um grupo de alunos que seus corpos não precisam de alimentos. A manipulação de Miss Novak é efetuada com sucesso quando observamos quem são seus alvos, alunos vulneráveis, abandonados por seus pais ou excluídos socialmente.

Neste ponto a direção de Jessica Hausner e seu roteiro realizado em conjunto com Géraldine Bajard, consegue abordar de maneira efetiva o ponto chave da problemática que aborda em seu longa: a negligência dos pais. Por muitas vezes o abandono, físico e emocional, transformam o adolescente em processo de formação um alvo muito fácil para qualquer um que demonstre o mínimo de interesse em sua vida. Ademais, vale salientar também, como o filme retrata a desigualdade social como um fator para facilitar a manipulação, já que um dos alunos é manipulado para garantir sua bolsa de estudos.

Ainda assim, por mais que o humor funcione eventualmente, a maior parte do tempo é dedicada a construir uma estética “perfeita”, refletida no guarda-roupa de Tanja Hausner, no desenho de produção de Beck Rainford e na fotografia de Martin Gschlacht. Por mais que eu entenda que este artificio é utilizado para enfatizar a sensação de controle que o discurso narrativo promove, ele gera o efeito contrário, transformando a obra em uma narrativa superficial e enfadonha.

A falta de um posicionamento racional faz do filme sem rumo a trilhar. O terceiro ato se torna um show de horrores e ao fim não há conclusão alguma além de uma tentativa desesperada do choque. “Clube Zero” desperdiça sua oportunidade de gerar um debate crítico entre a sua audiência quando abre portas ao sensacionalismo.

O filme estreia nesta quinta-feira, dia 25 de abril, nos cinemas brasileiros.

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